Há dias um importante empresário confessava em conversa que o pior que lhe acontecia era “ter que ‘vender’ pessoas a outras pessoas”. Queria ele dizer que tinha de convencer um terceiro do valor de alguém, para que se fizesse um contrato.

Esta mentalidade de que qualquer pessoa é vendável está enraizada na cultura empresarial, onde o que interessa são os resultados líquidos da produção de cada um.

Acontece, porém, que a dita “venda” da pessoa é feita, normalmente, pelo seu estatuto e formação académica e profissional, pela sua experiência e pela sua “comprabilidade” no mercado. Estes preceitos deixam de fora elementos vitais para o trabalho e para uma boa produção. Infelizmente, a comunicação do valor pessoal ainda se remete a uma simples folha de valores e, vezes sem conta, os clientes das “pessoas” acabam por querer contratar o mr. Universo e recebem a mulher barbuda…

Uma das mais importantes faces de um trabalhador, seja ele por conta própria ou de terceiros, é o seu gosto e brio profissional. Se quem trabalha tiver no sangue o talento,  então meio caminho andado está feito. Todas as pessoas têm um talento – descoberto ou por descobrir. Os profissionais que respeitaram o seu talento são, na maioria, habilidosos, responsáveis, rápidos e procuram soluções. Apreendem melhor os processos e estão mais à-vontade para inovar.

Outro dos aspectos importantes é o carácter das duas pessoas em questão: quem contrata e quem vai ser contratado. Item que quase nunca é “comunicado” por quem recruta é este. O carácter é, em resumo, o conjunto de valores que uma pessoa adquiriu ao longo da vida e pelo qual se rege. Se houver um conflito de carácter (ou de ‘feitios’) logo à partida, podemos estar perante os melhores chefes e chefiados do mundo, que nunca haverá bom resultado dali…

Por fim,  e também esquecida, está a ética profissional que deriva dos dois anteriores: o talento e o carácter. A ética é aquele elemento que permite a um profissional, mesmo no meio de uma tempestade enorme dentro da empresa, responsabilizar-se e dar o seu melhor, em prol do conjunto.

Estes três valores base, que nos parecem absolutamente essenciais, raramente são comunicados entre empregador e candidato. Listas há que discorrem sobre a necessidade de predicados quantificáveis mas nada qualificáveis – de qualidade.

Por isso, até no rigoroso mundo dos Recursos Humanos é necessária uma comunicação de valores, com competência e profissionalismo. Sob pena de nos calhar a mulher barbada. Ou, vá, com bigode – quando se procurava o Mr. Músculo.